Novela com Sônia Braga no SBT: atriz jurou não pisar mais na emissora

Em 1996, o SBT optou por investir na produção de novelas para o horário nobre, lançando três novas tramas - Colégio Brasil, Razão de Viver e Antônio Alves, Taxista. 

No entanto, Antônio Alves, Taxista, estrelada por Fábio Júnior, foi um fracasso em termos de audiência, sendo alvo de críticas tanto do público quanto dos jornalistas. 

Uma renomada atriz estava prevista para participar da novela escrita por Ronaldo Ciambroni, mas acabou desistindo do projeto.

Atriz Sônia Braga em Bacurau
Atriz Sônia Braga em Bacurau (Reprodução - Internet)

Atualmente, na reprise da novela Força de um Desejo no canal Viva, é possível ver a participação da renomada atriz Sônia Braga (presente na foto acima, em Bacurau), que recebeu uma oferta para retornar ao Brasil e atuar na televisão após morar nos Estados Unidos. 

A proposta em questão foi para atuar na novela Antônio Alves, Taxista, que era uma adaptação da trama argentina Rolando Vivas, o Taxista e tinha Fábio Jr. como protagonista. 

Essa foi a primeira vez que Sônia Braga atuou em novelas desde Chega Mais, apresentada pela Globo em 1980, e ela recebeu a sinopse da trama para avaliar antes de aceitar o papel.

“Estou louca para fazer novela no Brasil e tenho certeza de que Fábio e eu vamos nos divertir. Mas nada está acertado. Vou ler a sinopse e decidir se a personagem é para mim ou não”, disse Sônia em entrevista ao jornal O Globo.

Sônia Braga está chegando

Silvio Santos estava bastante animado com a produção da novela Antônio Alves, Taxista, pois seria uma parceria com os estúdios Ronda, uma empresa argentina que produzia tramas italianas. 

Silvio Santos
Silvio Santos (Reprodução - Internet)

Com poucas informações reveladas, o SBT mantinha um certo mistério sobre o roteiro e os personagens, inclusive para a atriz Sônia Braga, que havia aceitado o convite da emissora paulista. 

Ela explicou que não sabia muito sobre sua personagem, apenas que ela teria um caso com o protagonista, um taxista interpretado por Fábio Jr. Sônia não sabia se sua personagem apareceria em flashbacks ou quando surgiria na história. 

A descrição que ela tinha era de que a personagem seria um pouco como Júlia Matos de "Dancin' Days" após sair da prisão e ser muito maltratada. 

Ela seria uma mulher mais velha que o taxista, proprietária de uma agência de modelos ou algo do tipo, que não poderia ficar com um chofer se quisesse ser rica. 

A atriz ressaltou que ainda não sabia com certeza o nome da personagem, mas que isso não importava muito, pois poderia ser mudado se ela não gostasse. 

A trama envolveria um casamento com uma pessoa que tinha uma filha, mas que se apaixonaria pelo taxista e vice-versa. 

As gravações começaram em março de 1996, com um custo estimado de US$ 6 milhões, e seriam realizadas em São Paulo e Buenos Aires. 

Tanto Sônia quanto Fábio estavam empolgados com a novela, assim como Silvio, que tinha grandes expectativas para a trama. 

No entanto, os problemas surgiram logo na primeira semana.

O fim do contrato e o começo do conflito

Fábio Jr. como protagonista na novela Antônio Alves, Taxista
Fábio Jr. como protagonista na novela "Antônio Alves, Taxista" (Reprodução - Internet)

Sônia Braga se isolou em um quarto do hotel Maksoud Plaza e não compareceu às filmagens. Segundo seus colegas, ela estava descontente com a produção e, sobretudo, com a qualidade do roteiro.

O SBT procurava entender o motivo do desaparecimento de Sônia, e esta afirmou que havia se ausentado por um período para tratar de sua saúde.

“A desorganização e o amadorismo dos argentinos me causaram estafa emocional, e tive que tirar uma licença médica de 12 dias”,  disse a atriz em coletiva de imprensa.

O conflito envolvia Omar Romay, proprietário da Ronda Studios, a produtora argentina. Sônia ficou chocada ao ler o roteiro, que continha erros de português e um texto antiquado e sem sentido, além de descobrir que não teria o destaque prometido na trama.

“Não existia espaço para mim na novela, eu estava fora da trama central, não era isso que eu queria para voltar à televisão depois de tanto tempo", disse Sônia a revista Isto É.

Preocupada com toda a situação, a atriz decidiu dar uma pausa, pegou uma vassoura e foi limpar uma praça no centro de Buenos Aires. 

Organizações não governamentais locais elogiaram a atitude de Sônia, mas Omar ficou irritado e solicitou o término do contrato, que acabou sendo aceito pelo SBT. 

Em seu lugar, entrou Branca de Camargo (foto abaixo). Insatisfeita, Sônia comprovou que esteve presente no set de filmagem e que não deixou de cumprir com suas obrigações. 

Atriz Branca de Camargo
Atriz Branca de Camargo (Reprodução - Internet)

O litígio foi levado aos tribunais.

“Nunca fui tão maltratada em minha carreira”, disparou. “Como podem demitir quem está tentando sugerir adendos a um texto piegas, com ideia de transformá-lo em alguma coisa de qualidade? Nunca fui tão maltratada em minha carreira”, desabafou, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Esforço de reconciliação

Sõnia Braga durante coletiva do filme Bacurau no festival de Gramado
Sõnia Braga durante coletiva do filme Bacurau no festival de Gramado (Reprodução - Internet)

Meses mais tarde, Vicente Sesso, que havia sido contratado como roteirista de novelas pelo SBT, viajou até Nova York, nos Estados Unidos, com o objetivo de convidar a atriz para estrelar a novela A Pantera, que iria substituir a obra Antônio Alves, Taxista. 

Ele tentou persuadi-la a permanecer na emissora, esquecer o processo judicial e aceitar um papel em uma produção dirigida por Nilton Travesso ou Roberto Talma.

“Vicente me convidou mesmo para a novela, mas, como sou amiga dele, pedi que não tocasse mais no assunto de trabalho no SBT, até que meus probleminhas por lá sejam resolvidos”, disse a atriz ao Estadão.

Como consequência, a atriz não retornou ao SBT e a novela de Vicente Sesso jamais foi exibida. Sônia Braga só voltou a atuar em novelas em duas oportunidades: em Força de um Desejo (1999) e Páginas da Vida (2006). 

Atualmente, ela segue cativando o público com seu talento e beleza, consolidando-se como uma das principais referências da dramaturgia brasileira no exterior.

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