Globo não tem mais as gravações de 13 novelas que jamais serão reprisadas

Algumas novelas produzidas pela Globo, que fizeram sucesso ou não, simplesmente se tornaram impossíveis de serem exibidas novamente — pelo menos da forma como foram originalmente gravadas. Há duas razões para isso: as fitas foram reaproveitadas, algo muito frequente nas décadas de 1960 e 1970, ou os incêndios que atingiram a emissora nos anos 1970 danificaram as obras para sempre.

A seguir, mostramos 13 títulos que a Globo nunca mais poderá mostrar — nem no Viva, nem na sua plataforma de streaming Globoplay —, pois nenhum deles existe mais em seus arquivos.

Ilusões Perdidas - 1965

Essa foi a primeira novela do canal. Com 56 capítulos e protagonizada por Leila Diniz (que vivia uma vilã) e Reginaldo Faria, a trama não teve grandes destaques, mas seria curioso que a Globo tivesse em seu acervo o registro inicial de sua dramaturgia. Como quase tudo de seus primeiros anos, Ilusões Perdidas não sobreviveu, restando apenas algumas fotos.

O Sheik de Agadir - 1966

Do gênero capa e espada, esse folhetim de Glória Magadan trouxe o primeiro serial killer das novelas brasileiras. Apenas um par de luvas pretas surgia em cena, geralmente enforcando a vítima, que sempre era encontrada com uma aranha sobre o corpo. No final da história, revelou-se que o assassino, chamado Rato, na verdade era uma mulher: uma princesa árabe interpretada por Marieta Severo. Só restaram poucas imagens de bastidores.

Beth Faria e Cláudio Marzo em Véu de Noiva - 1969
Beth Faria e Cláudio Marzo em "Véu de Noiva" - 1969 (Reprodução - Internet)

Véu de Noiva - 1969

A histórica novela de Janete Clair mudou a forma como a Globo passou a produzir dramaturgia, pois foi a primeira a se propor a explorar narrativas mais realistas e modernas, em contraste aos dramalhões surrealistas da cubana Magadan. Estrelada por Regina Duarte, que fazia sua estreia no canal, e Cláudio Marzo, Véu de Noiva teve 221 capítulos, mas hoje sobraram apenas registros dos bastidores.

Pigmalião 70 - 1970

Com Tônia Carrero e Sérgio Cardoso, a trama exibida na faixa das 19h chegou a ter uma reprise nos anos seguintes, mas suas fitas foram posteriormente perdidas em um incêndio. Inspirada na peça homônima, a novela seguia um professor que tentava transformar uma simples vendedora de flores em uma dama da sociedade. O texto teatral também serviu de base para Totalmente Demais (2015).

Marília Pêra em O Cafona - 1971
Marília Pêra em "O Cafona" - 1971 (Reprodução - Internet)

O Cafona - 1971

Aqui, o autor Bráulio Pedroso ironizava a alta sociedade carioca, incomodando os grã-finos da vida real. Era uma exaltação às cafonices de um sujeito que, depois de ficar rico, fazia de tudo para se tornar conhecido no “soçaite”. Um dos mais cobiçados galãs da época, Francisco Cuoco hesitou em aceitar o personagem, temendo prejudicar sua imagem. Acabou sendo sua primeira experiência em comédias. Marília Pêra encarnava seu interesse amoroso.

Minha Doce Namorada - 1971

Outra obra que não resistiu ao fogo, a novela consagrou a atriz Regina Duarte com o título de “namoradinha do Brasil”. Na história, ela interpretava uma jovem órfã que vivia em um parque de diversões mambembe e se apaixonava por um estudante de medicina, repetindo par romântico com Cláudio Marzo. Além da ex-noiva, a mãe do rapaz eram obstáculos para o casal e não mediam esforços para separá-lo.

Rosamaria Murtinho e Sérgio Cardoso em O Primeiro Amor - 1972
Rosamaria Murtinho e Sérgio Cardoso em "O Primeiro Amor" - 1972 (Reprodução - Internet)

O Primeiro Amor  - 1972

Essa novela foi marcada por uma tragédia: o ator Sérgio Cardoso, que vivia o protagonista Luciano, morreu vítima de um infarto, aos 47 anos, faltando apenas 28 capítulos para o fim da trama. Leonardo Villar substituiu o colega para que o enredo tivesse um desfecho. Todos os arquivos da produção foram destruídos em um incêndio quatro anos depois, restando apenas chamadas de estreia e fotos dos bastidores.

Uma Rosa Com Amor - 1972

Estrelada por Marília Pêra, a singela comédia romântica contava a história de uma jovem pobre, que se apaixonava por seu chefe rico e charmoso. O sucesso foi tanto que consolidou o estilo como predominante no horário das 19h. Infelizmente, Uma Rosa com Amor também foi perdida nos incêndios. Em 2010, o SBT produziu uma nova versão da obra, com Carla Marins no papel protagonista.

Cavalo de Aço - 1973

Única passagem do experiente autor Walther Negrão pela faixa das 20h, a novela tinha o casal Tarcísio Meira e Glória Menezes no centro da ação. Restaram apenas algumas poucas chamadas de estreia. A história do motoqueiro que decidia fazer justiça pela morte dos pais, mas se apaixonava pela filha de seus inimigos, ganhou uma nova versão na faixa das 18h pelas mãos do mesmo escritor: o sucesso Fera Radical (1988) inverteu os papéis, dando a Malu Mader a missão de ser a motoqueira vingativa, e José Mayer, seu grande amor.

O Semideus - 1973

“Escrevi O Semideus às pressas e fiquei em busca de uma história até o capítulo 30. O sucesso aconteceu apenas da metade para o final. No início, tateei demais e isso não é bom para uma novela”, disse a autora Janete Clair sobre a polêmica obra, em entrevista anos depois. O principal percalço da produção foi a demora da volta do seu protagonista, encarnado por Tarcísio Meira, à época afastado do vídeo por mais de um mês em razão de uma cirurgia. O folhetim perdeu-se nas chamas.

Os Ossos do Barão - 1973

Esta é considerada a melhor criação do dramaturgo Jorge Andrade. A trama, baseada numa das peças do próprio autor, girava em torno da decadência da aristocracia paulistana e da ascensão de imigrantes italianos, grupos atingidos pela crise do café de 1929. Gravada a cores, Os Ossos do Barão reuniu atores como Paulo Gracindo e Lima Duarte. A Globo conta apenas com as chamadas de estreia no arquivo, mas o SBT produziu um remake em 1997.

Bete Mendes em O Rebu - 1974
Bete Mendes em "O Rebu" - 1974 (Reprodução - Internet)

O Rebu  - 1974 

A novela inovadora de Bráulio Pedroso ousou por contar uma história de 112 capítulos que se desenvolvia em um espaço de tempo de apenas 24 horas. O enredo era sobre um crime misterioso ocorrido em uma festa de gala: o público precisava descobrir quem morreu, quem matou e a motivação do crime. Bete Mendes fazia o papel da vítima. Só restaram do incêndio o primeiro e o 98º episódios. Em 2014, O Rebu ganhou uma nova versão, com Patrícia Pillar encabeçando o elenco.

O Amor é Nosso - 1981 

Estrelada por Fábio Júnior, essa pode ser considerada a novela mais problemática e menos saudosa que a Globo já produziu. Girando em torno de um jovem músico lutando por sucesso profissional e muito desejado pelas mulheres, O Amor é Nosso foi criada sob medida para impulsionar seu protagonista, mas apresentou um emaranhado de personagens em situações confusas que não agradavam ao público. Walther Negrão foi convocado para fazer mudanças na história, mas de nada adiantou. Reza a lenda que a emissora apagou todos os capítulos de seus arquivos, restando apenas a abertura e algumas chamadas.

Incêndios e perda de parte de seu acervo

Em seus 58 anos de existência, a Globo enfrentou alguns desafios significativos, especialmente incêndios que atingiram suas instalações tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. Dois desses desastres, ocorridos em 1971 e 1976, se destacam na história da emissora devido à gravidade das consequências.

Em 29 de outubro de 1971, durante a gravação do programa Moacyr Franco Especial, um incêndio começou a se alastrar no estúdio A do prédio da Globo no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Inicialmente, a fumaça não foi considerada uma ameaça, mas logo se intensificou. Um equipamento de ar-condicionado sobrecarregou e causou o início das chamas. A equipe de produção foi evacuada rapidamente, evitando vítimas fatais. No entanto, alguns equipamentos, fitas de programas e um depósito de cenografia foram danificados.

Em 4 de junho de 1976, ocorreu um incêndio de maior proporção que quase devastou a Globo. O fogo teve origem no controle mestre, responsável por manter a emissora no ar. A explosão de um computador causou pânico entre os funcionários, que evacuaram o prédio às pressas. Embora ninguém tenha morrido, a calamidade resultou na perda quase total do acervo de jornalismo do canal, incluindo os primeiros programas do Fantástico. Grande parte das novelas citadas na lista acima se perderam nesse fatídico dia.

O incêndio de 1976 afetou a Globo de tal forma que se fez necessário transferir a sua programação temporariamente para São Paulo. Algumas novelas tiveram suas gravações divididas entre vários estúdios, inclusive de outras emissoras, para garantir a continuidade das transmissões. Infelizmente, muitas produções de valor histórico não puderam ser preservadas, afetando seriamente o acervo do canal.

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